Smart City Expo Barcelona 2024 #3: Repensando Tecnologia, Justiça e Imaginação
Na publicação de hoje, trazemos uma das apresentações mais inspiradoras e desafiadoras da Smart City Expo Barcelona 2024, da Ruha Benjamin, professora e pensadora, que nos desafia a repensar o papel da tecnologia e da imaginação na construção de um mundo mais justo.
Além de questionar as palavras da moda e conceitos centrais que foram repetidas e apresentados em outros painéis da Expo, Benjamin nos lembrou que algumas das empresas e países que estavam com stands no evento tem práticas e polícias questionáveis e estão envolvidos em acusações de violações de Direitos Humanos.

Seguem as ideias principais apresentadas por Ruha Benjamin:
- Tecnologia e Violência:
A tecnologia tem sido usada para facilitar violência em massa há décadas. Martin Luther King Jr afirmou: “Temos mísseis guiados, mas homens desorientados”. Inovação tecnológica não significa progresso real.
- Cidades Inteligentes e Eugenia:
Conceitos como “inteligência” e “QI” têm raízes na eugenia, no qual algumas vidas são valorizadas mais que outras. Precisamos questionar quem define o que é “inteligente” e como isso impacta a sociedade.
- Imaginação como Ferramenta de Mudança:
A imaginação deve ser levada a sério, não como algo reservado a artistas, mas como algo que pode transformar o mundo. Devemos investir em um novo tipo de IA: Imaginação Coletiva.
- Narrativas sobre Tecnologia:
Tecno-distopia: Medo de que a tecnologia destrua empregos e agência humana. Tecno-utopia: Crença de que a tecnologia resolverá todos os problemas. Porém, ambas as narrativas ignoram os seres humanos por trás da tecnologia e seus valores.
- Exemplos de Resistência:
Em Saint Paul, Minnesota, a comunidade rejeitou um projeto de “inovação” que rotulava jovens como pessoas “em risco”, e os recursos financeiros desse projeto foram transferidos para investir diretamente nos jovens, sem estigmatização.
- Desigualdades Globais:
Racismo, castas e outras hierarquias sociais distorcem nossa visão de progresso e países como França, Índia, Japão e Brasil têm suas próprias formas de exclusão social, muitas vezes mascaradas por narrativas de “democracia” ou “homogeneidade”.
- Design Excludente:
Bancos públicos com braços divisórios ou barreiras que impedem pessoas sem-teto de deitar são exemplos de como o design pode excluir. Precisamos identificar e remover os “espinhos” invisíveis em nossas cidades e sistemas.
- Tecnologia nas Fronteiras:
Tecnologias de “fronteiras inteligentes” prometem ser mais humanitárias, mas na realidade reforçam a exclusão e a vigilância. Milhares de migrantes morrem tentando cruzar fronteiras, enquanto sistemas de IA decidem quem pode ou não entrar.
- Resistência e Reimaginação:
Movimentos como “Abolish Frontex” mostram que podemos reimaginar sistemas de segurança e conexão sem violência. Precisamos desmantelar os muros em nossas mentes que nos impedem de imaginar um mundo onde ninguém é abandonado.
- Ustopia:
Em vez de utopias ou distopias, devemos focar em ustopias (Nóstopias, em tradução do conceito para português) – futuros que criamos juntos, conscientes de nossa interdependência. O futuro não é algo que acontece conosco, mas algo que podemos moldar coletivamente.
Chamada à ação:
- Seja crítico e criativo: Entenda o que não queremos e imagine o que desejamos.
- Descentralize a tecnologia: Coloque os seres humanos de volta no centro das discussões.
- Aprenda com os marginalizados: Eles têm insights valiosos sobre as falhas do sistema.
- Resista à “realidade: Não aceite o status quo como imutável. Imagine alternativas radicais.

Reflexão Final:
A tecnologia não é neutra. Ela reflete os valores e as desigualdades da sociedade que a cria. Para construir um futuro justo, precisamos usar nossa imaginação coletiva para desmantelar sistemas opressivos e criar realidades que beneficiem a todos. O futuro é nosso para moldar – vamos fazer isso com coragem e criatividade.